Carta aberta ao prefeito de Mangue Seco, por José Queiróz

A polêmica em Mangue Seco
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José Queiróz

Caro Roberto,

Coloquei desta maneira porque poucas pessoas conhecem Jandaíra. A Bahia, o Brasil e o mundo conhecem Mangue Seco! Também fui informal, como recomenda a ética do turismo, que deve preservar ocupação, privacidade e férias de turistas. Sou José Queiroz, não apenas “guia de turismo”, como você pensou, pois fundei uma agência de receptivo com a intenção de atualizar o setor entre Salvador e atrativos ligados a ela, como Mangue Seco, e aproximar o turista da obra de Jorge Amado, de lugares, e da cultura popular difundidas pelo escritor. Tudo isso é fruto da minha paixão e dedicação ao estudo do turismo interno do Brasil, principalmente da nossa Bahia.

Mas, tenho muito orgulho de ser guia de turismo, de conhecer meu país e meu povo, meu governo e suas limitações, de ser seu representante, anfitrião, porta voz, relações públicas, fomentador da economia e da cultura nacional, de ser formador de opinião. Sei que você já esteve numa excursão como turista, e espero que tenha tido guias bons como a maioria do Brasil. Você deve ter percebido como as pessoas se igualam, se informam, se integram, se conscientizam, e se aprimoram através do turismo. E, seguramente, não se sentiu invasor, explorador ou destruidor! Foi bem recebido, viu o que esperava, se viu contribuindo com a economia local, e foi levado a preservar e divulgar o lugar. E o que você pretende fazer com Mangue Seco?

Os atrativos do lugar são as dunas, a igreja e o Recanto da Dona Sula, mundialmente conhecido como “casa da Tieta”, embora não agrade à nossa querida Flora. Formalmente ou não, esta casa já é patrimônio cultural de Jandaíra, deve ser tombada, sim, e ter um museu que preserve a memória da família, do lugar e da obra. Entretanto, milhares de pessoas têm entrado e saído de Mangue Seco sem visitá-la, e seu bom projeto precisa repensar esta questão, pois o atracadouro distante e a proibição do buggy na praça vão isolá-la mais ainda, pelas dificuldades naturais da média de idade de turistas, limitações físicas, areia e calor. O buggy não deve permanecer lá, mas o ponto de chegada, concentração, e partida de turistas em Mangue Seco, tem que ser esta praça!

O turismo em Mangue Seco não se sustenta apenas com veranistas, nem há infra-estrutura e logística viável para o turismo de pernoites, ele é muito caro ainda. Durante a semana o lugar fica vazio, vive da visitação diária promovida por Aracaju, Praia do Forte e Salvador. Há pessoas que tem como se sustentar sem o turismo, porém, a atividade é o que mantém mais de 80% da população local, de Coqueiro, e de outros povoados. Para viabilizar a permanência do turista por mais tempo, você precisa de um secretário que promova Mangue Seco em Aracaju, maior pólo emissivo, Feira de Santana, Praia do Forte e Salvador, sendo que, antes, há outras necessidades.

A maior delas, mais urgente, e não tão cara, é a manutenção, organização, normatização e fiscalização da visitação do belíssimo conjunto das dunas, palmeiras, rio e mar da APA de Mangue Seco. A sujeira e o lixo acumulado – as cascas de coco que estão lá, “escondidas”, em plena APA, não foram colocadas por turistas! – assim como as várias casas construídas no coração das dunas contrastam com a paisagem e a condição de Área de Proteção Ambiental. A proliferação e liberdade de bois e cavalos estão sujando e fertilizando as mesmas! Outra necessidade vital para Salvador e Praia do Forte é a estrada na península, para encurtar o tempo e o custo da viagem. Por enquanto ajudaria se você conseguisse um acordo com a Polícia Rodoviária de Sergipe, e nos permitisse passar para visitar nosso próprio atrativo, sem constrangimentos.

Porém, o caso dos buggys é tão urgente e vital como os outros, pois não é possível visitar as dunas a pé, nem em carros irregulares, sem itens de segurança, seguro e condutores sem habilitação. Sua iniciativa desse disciplinamento é incontestável, e deve ser levada a sério até todos estarem legalizados. Acho, desculpe, que não era preciso cobrar R$ 300,00 pela credencial de quem irá gastar com a regularização, nem impor gastos que são obrigações de governo, mediante concessão de serviço que é preciso, mas sem interferir na iniciativa privada. Cooperativas ou filas únicas devem atender aos turistas individuais, ainda assim sob responsabilidade da Prefeitura.

Mais de 80% do turista que chega a Mangue Seco é resultado do investimento e trabalho de operadoras e agências que gastam com viagens, eventos e publicidade para divulgar o lugar, muitas vezes com parceria financeira firmada em contratos com o receptivo e o comerciante local, que viabilizam acordos financeiros, assistência técnica e atendimentos de todo tipo. Portanto, não tem fundamento a exigência de bugueiros que não estão preparados para assumir as responsabilidades legais conseqüentes. Talvez a cooperativa seja o caminho, mas, por enquanto, operadoras e agências estão inquietas e inseguras com a fragilidade de bugueiros que elas não conhecem, com a falta de estrutura de apoio, com os transtornos que já são vítimas, e com a continuidade de seus negócios. Montem a cooperativa, nos convençam da qualidade e segurança de seu serviço, colaborem com a captação de turistas, ofereçam preços e condições de pagamento, e nós teremos o maior prazer em prestigiar o negócio. Sem desprestigiar os outros!

Sei que você conseguiu os votos da reeleição por diferentes motivações, mas, a principal, é encontrar soluções e caminhos para todos, mesmo os que não votaram. Também sei que a separação do PT, na Bahia, do seu partido, o PMDB, atrapalha a concretização de projetos. Não deveria, mas no Brasil é assim. Porém, Mangue Seco não é um lugar qualquer, além de parque natural, é um dos atrativos mais conhecidos do Brasil, tem leis que o protege. Discussões, planos e projetos que envolvam esse lugar devem ser discutidos com amplos setores da sociedade, a responsabilidade compartilhada, e os méritos, do líder que souber conduzir todos os interessados para o mesmo objetivo: o desenvolvimento profissional e sustentável do turismo em Mangue Seco. Acho que você está no caminho, e não está sozinho. Estaremos atentos, conte conosco!

O autor é Guia de Turismo em Salvador e colaborador do site Jornal Bahia Online